quarta-feira, 4 de maio de 2016

Pérolas da República - Castilhos e o abolicionismo.



   O movimento republicano iniciado em 1870 através do Manifesto Republicano, escrito ou conduzido por Quintino Bocaiúva, que representava um segmento da classe média que encontrava-se descontente por não encontrar espaço ou não ter seus anseios acolhidos no cenário político da época, à sombra da alternância do poder entre Liberais e Conservadores. Uma juventude, representada por médicos, advogados e jornalistas, e outros profissionais pertencentes a esta classe média excluída.
A Historiografia Republicana relaciona o movimento republicano ao movimento abolicionista, e muitos até hoje confundem e deixam-se confundir por esta informação de certa forma oportunista que conhecemos pelo lado vencedor na história. O movimento abolicionista era muito forte principalmente entre os Liberais, e foi durante o Império (1888) que foi encerrado esse período terrível de exploração e de sofrimento. Antes da abolição, São Paulo foi a única província que ainda mantinha o trabalho escravo em sua lavouras de café. A abolição, sonhada por todos, custou o trono do Imperador, pois os poderosos produtores paulistas, descontentes em razão do prejuízo, encontraram no Partido Republicano sua chance de atacar o Imperador, financiando e apoiando os movimentos. Clubes Republicanos já haviam se formado no Rio de Janeiro (1870), São Paulo (1873) e Rio Grande do Sul (1882).

   Na Província do Rio Grande do Sul, foi Julio de Castilhos o fundador do Partido Republicano Rio-Grandense. Jovem, formado em direito, com apenas 22 anos pugnava e divulgava as ideias positivistas de August Comte. Lutava pela moralização do país, pela liberdade e pela abolição da escravidão. Castilhos era gago, porém quando iniciava seus discursos, a gagueira sumia e uma oratória contundente se apresentava colocando-o como um grande orador.

   A grande pérola foi que, em 1883, Castilhos tinha que resolver uma pequena situação familiar. A família tinha um escravo de ganho, o Aníbal. O aluguel de Aníbal rendia à família Castilhos 32 mil réis por mês. A flor de todo o movimento republicano, de liberdade e moralização, o que fez Castilhos?

  Vendeu o Aníbal através de um corretor.

  Disse Julio de Castilhos ao irmão Francisco Castilhos através de uma carta:

  “Não faz ideia como tenho andado constrangido nesse negócio, apesar de ser ele tratado por um corretor, que é ao mesmo tempo empregado do meu escritório. Tenho receio dos maldizentes e dos jornais, que estão todos muito abolicionistas”.

 Passaram-se aí bons anos, e os modos operandi de nossa política continuam o mesmo. 

Tenho uma pequena esperança de que Aníbal tenha atrapalhado o sono de Castilhos pesando em sua consciência... mas isso é uma pequena esperança.


Fonte:
Estes documentos, de grande valor histórico, foram descobertos por acaso por uma estagiária do Museu Julio de Castilhos, Keter Velho, que foi transformado em livro: Teu amigo Certo – Julio de Castilhos – Correspondências inéditas – Ed. Museu Julio de Castilhos. 

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