O movimento
republicano iniciado em 1870 através do Manifesto Republicano, escrito ou
conduzido por Quintino Bocaiúva, que representava um segmento da classe média que
encontrava-se descontente por não encontrar espaço ou não ter seus anseios acolhidos
no cenário político da época, à sombra da alternância do poder entre Liberais e
Conservadores. Uma juventude, representada por médicos, advogados e jornalistas,
e outros profissionais pertencentes a esta classe média excluída.
A
Historiografia Republicana relaciona o movimento republicano ao movimento
abolicionista, e muitos até hoje confundem e deixam-se confundir por esta
informação de certa forma oportunista que conhecemos pelo lado vencedor na
história. O movimento abolicionista era muito forte principalmente entre os
Liberais, e foi durante o Império (1888) que foi encerrado esse período terrível
de exploração e de sofrimento. Antes da abolição, São Paulo foi a única
província que ainda mantinha o trabalho escravo em sua lavouras de café. A
abolição, sonhada por todos, custou o trono do Imperador, pois os poderosos produtores
paulistas, descontentes em razão do prejuízo, encontraram no Partido Republicano
sua chance de atacar o Imperador, financiando e apoiando os movimentos. Clubes
Republicanos já haviam se formado no Rio de Janeiro (1870), São Paulo (1873) e
Rio Grande do Sul (1882).
Na
Província do Rio Grande do Sul, foi Julio de Castilhos o fundador do Partido
Republicano Rio-Grandense. Jovem, formado em direito, com apenas 22 anos
pugnava e divulgava as ideias positivistas de August Comte. Lutava pela
moralização do país, pela liberdade e pela abolição da escravidão. Castilhos
era gago, porém quando iniciava seus discursos, a gagueira sumia e uma oratória
contundente se apresentava colocando-o como um grande orador.
A
grande pérola foi que, em 1883, Castilhos tinha que resolver uma pequena
situação familiar. A família tinha um escravo de ganho, o Aníbal. O aluguel de
Aníbal rendia à família Castilhos 32 mil réis por mês. A flor de todo o
movimento republicano, de liberdade e moralização, o que fez Castilhos?
Vendeu
o Aníbal através de um corretor.
Disse
Julio de Castilhos ao irmão Francisco Castilhos através de uma carta:
“Não faz ideia como tenho andado
constrangido nesse negócio, apesar de ser ele tratado por um corretor, que é ao
mesmo tempo empregado do meu escritório. Tenho receio dos maldizentes e dos
jornais, que estão todos muito abolicionistas”.
Passaram-se
aí bons anos, e os modos operandi de
nossa política continuam o mesmo.
Tenho uma pequena esperança de que Aníbal tenha atrapalhado o sono de Castilhos pesando em sua consciência... mas isso é uma pequena esperança.
Fonte:
Estes documentos, de grande valor
histórico, foram descobertos por acaso por uma estagiária do Museu Julio de Castilhos,
Keter Velho, que foi transformado em livro: Teu amigo Certo – Julio de Castilhos
– Correspondências inéditas – Ed. Museu Julio de Castilhos.
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