sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal solidário



    Mais um ano que participamos do Natal solidário, capitaneado pela Vó Jurema. A ação visou beneficiar famílias que vivem em estado de necessidade em Balneário Pinhal-RS. Cada família tem sua história de luta, de sofrimento, de esperança. Famílias que foram vitimadas pelo alcoolismo, pela droga, violência e pela falta de oportunidades. Conseguimos com a ajuda de amigos, cestas básicas, roupas, livros infantis e brinquedos que atenderam 16 famílias. Ao entorno destas moradias conseguimos presentear em torno de 50 crianças, que surgiam correndo, alucinadas em direção à Van, com aquelas carinhas desconfiadas e pidonas. Nosso fiel Papai Noel no calor do compromisso acabou esquecendo a barba, mas não perdeu o olhar e o interesse das crianças. A cada casa que parávamos, a situação era a mesma: pobreza. Crianças tristes, muitas sem o que comer. Com certeza não conseguimos e nem conseguiremos resolver o problema destas pessoas, e isso me angustia. Mas conseguimos atingir aquilo a que nos propomos: fazer um dia diferente, um dia de alegria. Talvez esse dia de alegria compense ou amenize os dias de tristeza que virão. E também que este dia de alegria possa abrir alguma janelinha de esperança na vida destas pessoas.
   Aproveito para agradecer a todos os colaboradores que participaram da ação, e contribuíram para um dia de alegria para estas crianças.



 

   

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Velho Pescador


A praia já não será mais a mesma...
Os ventos quentes que anunciam o verão,
também anunciam despedidas.
Os pinheiros crescerão livres e desformes,
sem a mão do podador.
As varas de pesca, já penduradas há muito tempo,
não terão mais o olhar orgulhoso de seu dono.
Os pescadores amadores ou não,
terão que buscar os conselhos e as dicas de maré em outra fonte,
pois o velho pescador não está mais lá.
Aqueles que quizerem sentir a sua presença,
eu sei onde podem encontrar:
Pois lá, no mar, onde sempre ficaram seus pensamentos,
lá, eles podem te encontrar.
Mesmo sem saber, os ensinamentos do velho pescador foram passados,
e serão seguidos, como as pegadas na areia,
lá, do mar.

domingo, 24 de julho de 2011

Do que eu falo quando eu falo de corrida.

Haruki Murakami

            Para aqueles que correm, e aqueles que pensam em correr, este livro do escritor e corredor japonês Haruki Murakami, traduz de forma simples, os sentimentos de um corredor e os benefícios que a corrida pode trazer a seus praticantes.  Murakami, nasceu no Japão, morou nos Estados Unidos, participou de mais de vinte maratonas, percorreu o trajeto que Filípides correu em 490ª.C, trazendo a boa notícia ao povo grego de que os Persas foram contidos, e que as mulheres não precisariam matar seus filhos e se suicidarem como haviam prometido caso os gregos fossem derrotados, em razão das ameaças dos Persas de violar as mulheres e matar seus descendentes. Murakami aplica a prática da corrida e a relaciona com sua profissão de escritor, e relata de forma irônica, engraçada, leve, seus treinos, seus sentimentos e sua expectativas em relação ao simples fato de correr.
           É um livro, que para quem corre, se identificará com o autor em vários aspectos, e aqueles que não correm, com certeza serão cutucados em seu íntimo, a ao menos pensar em correr.

sábado, 23 de julho de 2011

Rocky x Confúcio



          
  Sem querer, lendo uma coisa ali, outra aqui, descobri a inspiração de Stallone para a tão famosa frase motivacional que Rocky, em frente ao restaurante Adrian’s, diz ao filho acovardado que tentava persuadir o velho pugilista à não lutar mais para não envergonhá-lo frente a seus amigos. O velho Rocky diz: Ninguém baterá tão forte quanto a vida. Mas não se trata do quão forte você pode bater e revidar; mas se trata do quanto você consegue aguentar apanhar, e continuar seguindo em frente”.  Esta frase ficou batendo em minha cabeça muito tempo, pois apesar da simplicidade ela é perfeita. Inclusive um amigo me comentou que havia enviado esta frase à outra pessoa que tinha levado um tremendo “soco” da vida, e que ao ler, deu um sorriso, agradeceu e disse que aquelas palavras foram as mais confortantes que ouvira nos últimos tempos. Rocky tem seu poder. Mas, infelizmente aquilo que dizem que nada se cria, tudo se copia, é a mais pura realidade.  Lendo as citações, frases e viagens de Confúcio, me ative na seguinte citação: “ A maior glória não está em nunca cair, mas se levantar toda vez que isso acontecer”. Me caiu foi os butiás do bolso. Ou seria Stallone a reencarnação de Confúcio, o grande, se não um dos maiores filósofos que o mundo teve conhecimento, nascido a 500 anos antes de Cristo, na China dividida em muitos e muitos reinos, ou, Stallone  Rockylizou a citação de Confúcio. Mas como sou fã incondicional de Rocky Balboa, acredito que tudo não passe de mera coincidência, e o que vale mesmo é o efeito positivo que estas citações podem trazer as pessoas, sejam elas do velho Confúcio ou do velho Rocky.

sábado, 4 de junho de 2011

O velho corredor

    Todos os dias ele corre. A idade não impede que ele corra os 12 km de distância para ir ao trabalho. A pele negra e castigada pelo sol, a fisionomia ambígua entre cansaço e esperança, as rugas evidenciando uma idade já avançada, todos dias ele corre. O trajeto já parece estar marcado em todo o canteiro lateral da Av. Ipiranga, ao lado do arroio. No caminho por onde passa não cresce mais grama, apenas uma trilha de areia, por onde muitos seguem. As passadas são curtas, mas constantes. O ritmo é forte e as pisadas são firmes. O velho corredor segue sem olhar para os lados, se concentrando apenas na respiração e no fim do caminho. A mochila que leva nas costas, contém, além de alguns pertences, a vianda preparada pela esposa, não atrapalhando o ritmo. O homem segue correndo. Nem a chuva, nem o vento minuano nos dias mais frios de inverno impedem o velho corredor de seguir seu caminho. As passagens que ele recebe da Prefeitura, entrega ao neto, para que ele vá de ônibus à escola e chegue com disposição. O velho corredor acredita que se o neto tiver a oportunidade de estudar, não será analfabeto como o avô, e correrá apenas para manter a forma.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Graf Zeppelin - O dia que Porto Alegre parou.

      





    O dia amanheceu nublado, e a possibilidade de chuva era iminente naquela sexta-feira, 29 de junho de 1934 - feriado de São Pedro - o padroeiro do Rio Grande do Sul. A expectativa era enorme, nem o frio, e nem a chuva tirariam o brilho da chegada do dirigível alemão Graf Zeppelin, que faria um desvio de sua rota e sobrevoaria Porto Alegre. O gigante alemão saiu de sua terra natal três dias antes com destino a Buenos Aires, onde passou por Recife, Rio de Janeiro, e estava a caminho, com sua chegada prevista para às 10 horas da manhã. Logo, um aeromotor da Varig sobrevoou a cidade com uma faixa: "Zeppelin - 12:00 horas", comunicando o atraso. O evento para época era de grandes proporções, pois o Zeppelin era o maior veículo transatlântico aéreo que existia. Os aviões da época eram de pequeno porte, e não ofereciam conforto nas viagens de longa distância. O Zeppelin possuía 216metros de comprimento, 40 metros de altura, abrigando em seu interior 200.000m3 de gás hidrogênio, perdendo apenas para o dirigível Hindenburg, da mesma empresa, com 245metros, alcançando quase o tamanho do histórico Titanic. Essas aeronaves faziam a rota Alemanha - Brasil em três dias, ao ponto que de navio, a viagem durava em torno de 10 dias, e o conforto oferecido pelo dirigível era o que existia de melhor, além da privacidade das cabines, espaço para shows, restaurante, tinha a estabilidade e dava a plena sensação de flutuar nos céus. Era a demonstração de poder de uma Alemanha em crescimento, na ponta da produção industrial mundial. 



      Porto Alegre em 1934 estava em pleno desenvolvimento, bondes, trens, a população mais centralizada na zona portuária, atual centro cultural da cidade. Refrigerador ou geladeira eram produtos de luxo, ainda nesta época o gelo era vendido de porta em porta, onde as pessoas os acomodavam em armários muito parecidos com que seriam frezzers de hoje, podendo conservar os alimentos por mais alguns dias. A vida não era fácil, sem falar das epidemias, da falta de recursos médicos e saneamento básico, coisa que até hoje não é totalmente resolvida, pois ainda depositamos todos os dejetos e esgoto diretamente nas águas do Guaíba, consumida pela população. Naquela época o Arroio Dilúvio era frequentado por pescadores, que moravam às suas margens e tiravam de suas águas o sustento de suas famílias. Em 1934 entraria em cartaz o filme Adeus às armas, com Gary Cooper, adaptando a obra de Ernest Hemingway, e estreava também o até hoje famoso King Kong. O internacional seria neste ano o campeão da 14º edição do Campeonato Gaúcho, ganhando a final por 1 x 0 sobre o 9º Regimento de Infantaria do Exército, no estádio da Baixada, em POA, antigo estádio do Grêmio, que aliás não se classificara para a fase final.


     Eram 12:30hs, logo ao longe em direção ao norte, poderia ser visto aquele ponto cinzento se aproximando. As pessoas se aglomeravam nos telhados das casas, nos prédios, nas lajes ainda em construção da Catedral Metropolitana, nas ruas, nas sacadas, nas praças. Foi um momento raro aquele 29 de junho, onde por alguns instantes a cidade saiu de sua rotina. Os aviões da Varig, ao comando de seu presidente Otto Ernest Meyer, escoltavam o Zeppelin e faziam fotos de todos os ângulos abastecendo os jornais Correio do Povo, Diário de Notícias, Federação e Jornal da Manhã, responsáveis pela passagem do dirigível que atendeu o clamor de tantos pedidos. Claro, que de fundamental importância na decisão de desviar a rota do transatlântico, era o grande número de imigrantes alemães que formavam imensas colônias como São Leopoldo. Antes de chegar em Porto Alegre, o que acabou atrasando em 30 minutos sua chegada, foi o sobrevôo do dirigível, sobre São Leopoldo, para saudar seus descendentes, onde se aglomeravam nas ruas, felizes e orgulhosos da força da pátria mãe representado por um objeto voador tão magnífico, sem saber ainda que o mundo estava prestes a entrar na pior guerra do século XX. Um dia após a passagem do Zeppelin, ocorreria na Alemanha o que foi conhecida como a "Noite das facas longas" onde Hitler até então Chanceler, acabaria com seus inimigos dentro do próprio exército, deixando aberto o caminho para a ascensão do Nazismo. Com a morte do presidente Hindenburguer, em agosto do mesmo ano, Hitler passaria a ser o Füher, o senhor de todos os exércitos, saudado por seu povo, e que seria o responsável pelas atrocidades que aterrorizariam o mundo nos próximos anos, e o que antes era motivo de orgulho aos descentes alemães, seria motivo de decepção, de medo e até de perseguição, pois a língua alemã já não seria mais bem vinda ao eixo contrário ao nazismo.


     A empresa Zeppelin acabou firmando parceria com o Brasil, estabelecendo a cidade do Rio de Janeiro, em Santa Cruz, como ponto de parada dos Dirigíveis. Foi construído no local um imenso hangar, de proporções gigantescas, capaz de abrigar os enormes aparelhos, inaugurada em dezembro de 1936 com a ativação de uma linha regular que ligava Frankfurt ao Rio de Janeiro, com parada em Recife. Tal evento contou com a presença ilustre do Presidente Getulio Vargas. Outras bases foram construídas nos Estados Unidos, em Lakehurst e em Akron, onde a Alemanha acabou aproveitando dos americanos a produção de gás hélio, que substituíra com muito mais propriedade o gás hidrogênio. Também, foram construídas bases na Inglaterra, em Cardington, e na Italia na Sicília. Hitler acabou percebendo nos dirigíveis uma interessante forma de divulgar e mostrar ao mundo a força da Alemanha nazista. Sem perda de tempo, resolveu nacionalizar a empresa Zeppelin, e os dirigíveis a partir de 1934 começaram a alçar vôos com a suástica nazista em sua calda. Isso pode ser visto na abertura das Olimpíadas de Berlim, no dia 01 de agosto de 1936, onde o gigante Hindenburg sobrevoou o estádio olímpico momentos antes do aparecimento de Hitler, onde ficou demonstrado que o brilho maior não foi a supremacia alemã, e sim o afroamericano Jessé Owens, que ganhou as provas de 100m, 200m, 4×100m e salto em distância. 




     O tempo dos gigantes estava por terminar. A tragédia do Hindenburg, o maior de todos os Zeppelins, cujo nome recebeu em homenagem ao presidente alemão, ocorreu em maio 1937, nos Estados Unidos, onde um incêndio que iniciou em seu interior, com as causas até hoje não esclarecidas, onde muitos acreditam na hipótese de atentado criminoso e de sabotagem, acabou destruindo todo o dirigível antes mesmo de pousar, causando a morte de 36 pessoas, com transmissão ao vivo da imprensa local, colocando em dúvida a segurança dos aparelhos. Claro que a logística e a mão-de-obra para fazer os gigantes operarem eram fora dos padrões. Para uma viagem transatlântica com uma capacidade de 25 passageiros eram necessários 60 operários tripulantes, sem falar dos 200 homens necessários na base para operarem no pouso e na decolagem. Com a Alemanha entrando em guerra, e também com a desconfiança de falta de segurança, os dirigíveis acabaram perdendo suas atribuições com o fim muito próximo. Em 1940 o Graf Zeppelin faz seu último vôo, depois de 10 anos de viagens transatlânticas sem nunca ter dado nenhum tipo de problema. O gigante foi desmanchado e suas estruturas foram utilizadas para construção de material bélico. O Hangar de Frankfurt foi destruído por ordem de Hermann Göring e o Hangar de Friedrichshaffen foi pesadamente bombardeado na II Guerra Mundial. O Hangar da Base Aérea de Santa Cruz encontra-se tombado desde 1998, sendo um dos últimos exemplares e de melhor conservação nos dias de hoje.

             Foi um dia interessante aquele 29 de junho de 1934 em Porto Alegre.


Algumas sugestões de vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=ok4Zj9hAfw0&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Nt9ROvNceNQ
http://www.youtube.com/watch?v=ZWSRIIg8KXQ&feature=related