quarta-feira, 27 de abril de 2016

República em evidência



Segundo Laurentino Gomes, em seu Livro 1889, brilhante jornalista, apaixonado pela história do Brasil, trás documentos muito interessantes que nos auxiliam a entender melhor os personagens. Sobre Deodoro da Fonseca, reforça a hipótese de que o velho marechal era monarquista, conforme o que consta nas correspondências trocadas com o sobrinho Clodoaldo Fonseca, aluno da Escola Militar de Porto Alegre, que integrava os jovens positivistas, a mocidade militar capitaneado por Benjamin Constant,
Escreveu Clodoaldo uma carta ao tio em 1888 onde expressava suas ideias republicanas. O velho marechal: "República no Brasil é coisa impossível porque será uma verdadeira desgraça. Os brasileiros estão e estarão muito mal educados para republicanos. O único sustentáculo de nosso Brasil é a monarquia. Se mal com ela, pior sem ela."
Em outra carta, pouco depois, o marechal recomendou ao sobrinho: “Não te metas em questões republicanas, porque República no Brasil e desgraça completa é a mesma coisa; os brasileiros nunca se prepararão para isso, porque sempre lhes faltarão educação e respeito”. Essas cartas demonstram que, até as vésperas do golpe contra o império, o fundador da República não era republicano.
Os detalhes dessa história estão nos capítulos no livro, 1889. Muito bom, aborda todo o processo até a Revolução Federalista, que será abordado mais adiante.

Momento crucial da Proclamação da República


Um dos momentos mais cruciais da Proclamação da República foi quando Deodoro, em ato contínuo, apelou para o Marechal Câmara (Visconde de Pelotas) pedindo que o ajudasse a consolidar o novo regime. Tal momento foi de grande tensão, visto que no Rio Grande do Sul encontrava-se o maior contingente do exército e o presidente da Província era Gaspar Martins, político de grande influência no Império. O Pequeno grupo republicano não sabia qual seria a reação gaúcha. O apelo de Deodoro foi providencial, já que Visconde de Pelotas era um herói de guerra, destacando-se por estar a frente da captura e morte de Solano Lopez, ao final da Guerra do Paraguai, e o respeito que o velho Marechal tinha com as tropas foi o detalhe que faltou para o sucesso do golpe republicano. Visconde de Pelotas convocou uma reunião com os comandantes Gaúchos e após longa conversa, resolveram apoiar o golpe. Gaspar Martins havia sido preso.
Deodoro da Fonseca, ao receber o telegrama de Visconde de Pelotas com a resposta de apoio ao golpe, exclamou; " A República está salva".
O interessante e não mencionado na história é que após renúncia, o Visconde de Pelotas escreve a um amigo sobre os aspectos do novo governo o que transcrevo na íntegra:
"Exmo. Colega e caro amigo.
Tive a satisfação de receber a sua carta de 27 do mês passado.
Acompanhando os acontecimentos que aí se estão dando, vejo que aceleradamente caminhamos para um despenhadeiro que precipitará o nosso desgraçado país em seu abismo. Quem aparecerá com a energia, prestígio e capacidade para salvar-nos? Até onde iremos não se pode prever. Condenei pela imprensa esta República, proclamada por uma insignificante fração do Exército, que desvirtuará a sua missão, tornando-se árbitro dos destinos da Nação, e vi quais as consequências desse procedimento criminoso, e elas não se fizeram esperar.
Temos a ruína nas finanças, o descrédito no estrangeiro e a desordem e imoralidade a imperarem sobranceiras. Que Deus se amerceie de nós.Não me diz ter recebido as minhas cartas, de uma das quais foi portador meu filho Alfredo, e outras capeadas ao Sr. Marcelino, seu sogro.
Disputaremos a eleição, dispostos a não deixarmos vencer pela fraude, custe o que custar. Demétrio (Dr. Demetrio Nunes Ribeiro) não pode deixar de unir-se a nós, logo que forem
descriminados os partidos políticos, parecendo-me impossível que queira acompanhar ao Castilho, especulador miserável, sem patriotismo. Ele ocupará o lugar que designa o seu merecimento, caráter, talento e honestidade. Falta-me tempo e digo-lhe adeus. Nossos cumprimentos e de minha família à Exma. Sra. Marieta, lembrando-nos à galante Marietinha. Sempre o seu velho amigo, afetuoso e obrigado".
Tal carta foi extraída da biografia do Visconde de Pelotas, escrito pelo filho Rinaldo Pereira Câmara (CÂMARA, 1979, p.359).
Este momento na história demonstra o início da opressão de Julio de Castilhos contra qualquer um que intervisse em seu "saber" científico baseado no positivismo de August Conte.