sábado, 14 de maio de 2016

Conspirações da República




A República sempre foi marcada por golpes e conspirações, desde sua proclamação. O povo, na sua maioria de analfabetos, sempre foi mero coadjuvante neste processo. A deposição de Pedro II nos dá uma visão interessante na busca de entendermos a nossa história. Nos bastidores dos golpes, as tramas são sempre as mesmas. Neste caso em tela, Floriano Peixoto, facilita a entrada de algumas dezenas de soldados liderados por Deodoro, incentivado por republicanos civis. Logo, torna-se vice-presidente, derruba Deodoro, assumindo o poder, passando a ser conhecido como o Marechal de Ferro, em uma ditadura militar que fomentou uma guerra civil sangrenta nos primeiros anos da República.


Professor José Murilo de Carvalho (A construção Nacional, p. 127), detalha de forma muito interessante este momento:


"A Deposição
A conspiração militar caminhou rapidamente. Jovens militares, comandados por Benjamim Constant, conseguiram convencer o marechal Deodoro a liderar o movimento com os argumentos de que o governo queria retirar as tropas do Exército da capital e fortalecer a Guarda Nacional e a polícia. Os conspiradores entraram em contato com os republicanos civis. O Partido Republicano, que só poucos meses antes elegera seu primeiro chefe nacional na pessoa de Quintino Bocaiúva, admitia desde 1887 o recurso aos militares para derrubar a Monarquia. Essa era a posição do novo presidente. Houvera antes algumas negociações entre as duas partes, mas se resultado. A única reunião entre os conspiradores e representantes dos republicanos do Rio de Janeiro e São Paulo verificou-se no dia 11 de novembro em casa de Deodoro.
O golpe estava marcado para o dia 17, mas alguns oficiais o precipitaram espalhando nas guarnições boatos de que o governo mandara prender Deodoro e Benjamin e que tropas da Guarda Nacional, da polícia da Guarda Negra atacariam os quartéis. Na madrugada do dia 15, cerca de seiscentos militares congregaram-se no Campo de Santana, em frente ao quartel –general do Exército. Deodoro, recuperado de um ataque de asma, assumiu o comando. O comandante das tropas reunidas no quartel general, general Floriano Peixoto, recusou-se a mandar atacar os revoltosos. Aproximadamente às 09 horas, Deodoro foi admitido ao quartel onde se achava o presidente do Conselho de Ministros, Visconde de Ouro preto. Falou-lhe dos sofrimentos por que passara no Paraguai e das perseguições do governo ao Exército. Por fim declarou o ministério deposto, sem tocar na questão do regime. As tropas desfilaram pela cidade. 
O Imperador, avisado, desceu de Petrópolis sem dar muito crédito às notícias. Houve grande incerteza durante o dia 15. À tarde, Benjamin alertou os republicanos civis de que a República não estava proclamada e pediu que agitassem o povo. Umas cem pessoas se reuniram na Câmara Municipal, onde fizeram a proclamação, mas ao dirigirem-se a casa de Deodoro não foram recebidas. Somente à noite, quando o marechal soube da indicação de inimigo pessoal (Gaspar Martins) para substituir Ouro Preto, decidiu-se pela proclamação. Recusou-se a ter um encontro com o Imperador, alegando que eram amigos de longa data e ambos se poriam a chorar. Decidida a Proclamação, formou-se o primeiro ministério, com Deodoro na presidência, Floriano Peixoto como vice e Benjamin no Ministério da Guerra. Civis republicanos preencheram os outros postos.
A família imperial foi intimada a deixar o país na madrugada do dia 17. Acompanharam-na alguns poucos amigos, entre os quais o abolicionista André Rebouças. O navio levou a Lisboa, onde o Imperador foi recebido com honras por seu sobrinho, o rei D. Carlos I. No dia 28 de dezembro, morreu a imperatriz Tereza Cristina. D. Pedro passou os dois anos seguintes movendo-se por vários endereços nas França. No dia 05 de dezembro de 1891 morreu em Paris, no hotel Bedford, e foi levado a Portugal para sepultamento no jazigo dos Bragança.
No Brasil, a República consolidava-se aos poucos, enfrentando as dificuldades decorrentes da maneira por que fora proclamada e da heterogênea composição de seus aderentes. Depois de quase dez anos de conflitos e guerras civis, encontrou sua estabilidade da presidência de Campos Sales, um dos fundadores do Partido Republicano Paulista".

Nenhum comentário:

Postar um comentário