sábado, 4 de junho de 2011

O velho corredor

    Todos os dias ele corre. A idade não impede que ele corra os 12 km de distância para ir ao trabalho. A pele negra e castigada pelo sol, a fisionomia ambígua entre cansaço e esperança, as rugas evidenciando uma idade já avançada, todos dias ele corre. O trajeto já parece estar marcado em todo o canteiro lateral da Av. Ipiranga, ao lado do arroio. No caminho por onde passa não cresce mais grama, apenas uma trilha de areia, por onde muitos seguem. As passadas são curtas, mas constantes. O ritmo é forte e as pisadas são firmes. O velho corredor segue sem olhar para os lados, se concentrando apenas na respiração e no fim do caminho. A mochila que leva nas costas, contém, além de alguns pertences, a vianda preparada pela esposa, não atrapalhando o ritmo. O homem segue correndo. Nem a chuva, nem o vento minuano nos dias mais frios de inverno impedem o velho corredor de seguir seu caminho. As passagens que ele recebe da Prefeitura, entrega ao neto, para que ele vá de ônibus à escola e chegue com disposição. O velho corredor acredita que se o neto tiver a oportunidade de estudar, não será analfabeto como o avô, e correrá apenas para manter a forma.