domingo, 23 de junho de 2013

E se pensarmos que tudo começou por causa das árvores do Gasômetro?





Com todos esses movimentos e passeatas contagiantes que ocorrem pelo Brasil, até mesmo se espalhando por países vizinhos, com repercussão da imprensa mundial. E se pensarmos que foi tudo por causa das árvores do Gasômetro? Explico. Porto Alegre vivia uma dormência social. As pessoas iam e viam, de cabeças baixas, cada um sofrendo a sua maneira, levando a vida de forma resignada diante as grandes obras de viabilidade para atender as demandas da FIFA. Houve um dia em que os moradores do entorno do Gasômetro acordaram ao som de motosserras. Verificou-se a remoção de grande quantidade de vegetais e de imediato houve a intervenção das pessoas pedindo explicações. O prefeito explicou de forma pública, que as pessoas não usavam aquelas árvores, e que ainda, uma centena seria removida para a duplicação da avenida que fazia parte de um projeto sustentável de desenvolvimento viário. As pessoas não aceitaram as explicações e foram buscar opiniões de profissionais da área para a real necessidade de cortar as Tipuanas “cinquentonas” que ocupavam a área pública. Neste meio tempo o MP, através de instrumentos jurídicos, consegue interromper o corte. O movimento de pessoas em favor das árvores aumenta, se organizam, e jovens ocupam a área, com suas barracas e ideais definidos, convictos de defenderem aquele espaço, clamando um diálogo dos gestores públicos. Em paralelo ao primeiro corte, ocorria outro movimento legítimo, jovens, em sua maioria estudantes, conseguiram se mobilizar e um vereador de Porto Alegre conseguiu impetrar uma liminar que não permitiu o aumento das tarifas de ônibus. Em final de abril, o Secretário Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre é preso, e é deflagrado pela Polícia Federal um grande escândalo de venda de licenças ambientais. Diante deste cenário, o movimento em favor das árvores se fortalece, e através das redes sociais e contato direto com as pessoas, consegue-se mobilizar e agregar mais simpatizantes que se identificam com o movimento. Em final de maio, o prefeito envia representantes, sem nenhuma sensibilidade, para negociar com os defensores. Não houve acordo. O prefeito viaja, e delega ao vice a execução de uma ação característica de “estado de exceção”, muito comum na nossa não tão distante ditadura militar, onde movimentou um grande efetivo da Brigada Militar, uma operação, nunca antes utilizada para combater traficantes e o crime, em fim, às 04 da manhã prenderam e algemaram os jovens que ali dormiam em barracas, lutando por árvores. Uma grande mobilização de homens, equipados com motosserras e caminhões terminaram de cortar as árvores na calada da noite, e para a surpresa de muitos, ao amanhecer o serviço já estava concluído. Explicações? A prisão era para a segurança das pessoas, e a remoção dos vegetais na madrugada era para não atrapalhar o trânsito.
Tá, o que tem isso com os protestos? Ocorre que as pessoas que defendiam árvores eram pessoas comuns, porém formadoras de opinião. Os gestores com olhos nublados pela arrogância e autoritarismo não conseguiram enxergar. Neste movimento podemos encontrar escritores, publicitários, engenheiros, biólogos, professores, profissionais da saúde e da justiça, até me atrevo a dizer que neste movimento podemos encontrar a “nata” do pensamento de Porto Alegre. O movimento sentiu, e a forma autoritária de governo se manifestou. As árvores morreram e os gestores mostraram como governam. O sentimento descrédulo das pessoas logo foi substituído por um sentimento de ódio contagiante e uma vontade extrema de reação. A obstinação e a vontade de reparação dos defensores das árvores foi o elemento de combustão que faltava para incendiar o fogueira montada pelos jovens que lutavam por uma passagem mais baixa e um transporte de melhor qualidade. No dia 12 de junho, os jovens do tarifa zero ou passe livre, já não estavam mais sozinhos, o autoritarismo dos gestores despertou outras demandas. A luta já não era mais pela passagem, nem pelas árvores.
         Logo, a notícia da grande passeata se espalhou e chegou a São Paulo. Vi, nas primeiras passeatas, através da mídia mãe, que jovens paulistas levantavam cartazes: “Vamos repetir Porto Alegre”. O Autoritarismo dos governantes de São Paulo também ficou evidente, onde o prefeito, à sombra do governador, disse que a passagem não deixaria de aumentar e muito menos baixaria de preço, e que não permitiria passeata na Av. Paulista. Resultado, balas de borracha, bombas, spray de pimenta e repercussão mundial da truculência e repressão policial contra movimentos democráticos. As pessoas foram tomadas por um ódio contagiante e também uma vontade de reação.  As ruas foram tomadas, Porto Alegre fez novo protesto gigantesco em apoio a São Paulo. A Av. Paulista foi tomada, milhares de pessoas foram as ruas, e de forma rápida o prefeito já conseguiu uma maneira de baixar o preço das passagens, como se fosse a solução. Logo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, e outras tantas cidades de todo o Brasil foram às ruas. Houve um despertar social coletivo. Não é mais por causa da passagem, nem pelas árvores. Não sei como isso vai terminar, que bom que por enquanto os vândalos são a minoria. Mas o que posso dizer, é que enquanto houver pessoas defendendo árvores, a humanidade ainda terá esperança.

Fotos: