Demorei muito
para encontrar uma muda de Asclepias
curassavica, conhecida como Oficial-de-sala. Uma planta sem graça nenhuma,
leitosa, que cresce como um arbusto, de flores alaranjadas. Essa planta, é uma
das poucas fontes de alimento da lagarta que se transforma em borboleta Monarca
aqui no sul, que na minha infância existia aos montes e foi aí que aprendi a
acompanhar o nascimento destes animais.
Ano passado
plantei a tal muda no jardim do escritório, e logo com um pouco de adubo e água
diariamente, a planta ficou enorme, vigorosa e cheia de flores. Demorou mais ou
menos um ano para que uma Monarca encontrasse a planta, já que meu escritório
fica próximo ao aeroporto e entre duas avenidas de intenso movimento. Mas a
natureza é sábia. A Monarca deposita os ovos nas folhas, em poucos dias nascem
lagartas minúsculas. Esses animais começam a comer a planta. Quando digo comer,
estou sendo econômico, pois quero dizer que elas comem muito, são vorazes,
deixam apenas os talos da planta. Em duas semanas, o bicho não consegue
mais comer de tão gordo, ficando pronta para a metamorfose, onde apareço e
coleto o animal ainda em forma de lagarta e o isolo junto a um bonsai ou área
protegida dentro do escritório onde todos acompanham a mudança da lagarta para
casulo e após quinze dias, cheia de estilo nasce, a Monarca.
Da primeira
vez nasceram três borboletas. A árvore ficou “pelada”, mas em três meses se
recuperou e logo floresceu novamente, e o processo se repetiu, e a cada três
meses alguma Monarca encontrava a planta e o ciclo se reiniciava. Até então eu
era mero expectador. Resolvi interferir, até porque estava com um tempinho
livre em aumentar a produção, protegendo os animais dos predadores. Ou seja,
isolei as plantas, afastei os marimbondos, as formigas, as crianças, as vespas,
ou seja, tudo aquilo que poderia por em risco a integridade física da lagarta
era afastado. Eram várias lagartas, comiam muito, e cresciam em uma grande
população. O colapso aconteceu quando, na metade do tempo normal de formação do
animal, acabou a planta. Comeram até os talos, e não foi suficiente para
concluir o processo. Houve a morte de toda a população de lagartas. Morreram de
inanição. Secas. Definhando.
Esta
experiência coincidiu com a leitura que fiz de um livro: Colapso, de Jared Diamond, onde o autor descreve de
forma fria e sustentada por fatos históricos o fim de várias civilizações da
humanidade, como os Maias, os Vikings, a população da Ilha da Páscoa, e outras
tantas civilizações que se exterminaram, ou que simplesmente desapareceram sem
deixar rastros. Além de fatores da natureza, a falta de alimentos foi o grande
fato gerador do desaparecimento destes povos, ou seja, consumiram todos os
recursos que possuíam e por ficarem isolados de outras sociedades, não
conseguiram sobreviver.
O panorama em
que vivemos hoje não é muito diferente do vivido pelos insetos. O aumento
geométrico da população e perpetuação da espécie, onde o avanço da medicina e
suas descobertas permitem que o ser humano viva por muito mais tempo com uma
melhor qualidade de vida. A cada ano a população mundial aumenta em meio bilhão
de habitantes. Os recursos naturais cada vez mais escassos, as florestas
devastadas dando lugar à criação de gado, o aquecimento global gerado
principalmente pelos poluentes industriais que saciam o consumismo desenfreado
da população que busca conforto e diversão. A destruição do meio ambiente é
constante e avassaladora. Todos sabem, alguns se importam e poucos tentam fazer
algo para mudar. Logo, as lagartas não terão mais planta e o ciclo estará
comprometido.
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