quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Humanidade e a lagarta




Demorei muito para encontrar uma muda de Asclepias curassavica, conhecida como Oficial-de-sala. Uma planta sem graça nenhuma, leitosa, que cresce como um arbusto, de flores alaranjadas. Essa planta, é uma das poucas fontes de alimento da lagarta que se transforma em borboleta Monarca aqui no sul, que na minha infância existia aos montes e foi aí que aprendi a acompanhar o nascimento destes animais.
Ano passado plantei a tal muda no jardim do escritório, e logo com um pouco de adubo e água diariamente, a planta ficou enorme, vigorosa e cheia de flores. Demorou mais ou menos um ano para que uma Monarca encontrasse a planta, já que meu escritório fica próximo ao aeroporto e entre duas avenidas de intenso movimento. Mas a natureza é sábia. A Monarca deposita os ovos nas folhas, em poucos dias nascem lagartas minúsculas. Esses animais começam a comer a planta. Quando digo comer, estou sendo econômico, pois quero dizer que elas comem muito, são vorazes, deixam apenas os talos da planta. Em duas semanas, o bicho não consegue mais comer de tão gordo, ficando pronta para a metamorfose, onde apareço e coleto o animal ainda em forma de lagarta e o isolo junto a um bonsai ou área protegida dentro do escritório onde todos acompanham a mudança da lagarta para casulo e após quinze dias, cheia de estilo nasce, a Monarca.
Da primeira vez nasceram três borboletas. A árvore ficou “pelada”, mas em três meses se recuperou e logo floresceu novamente, e o processo se repetiu, e a cada três meses alguma Monarca encontrava a planta e o ciclo se reiniciava. Até então eu era mero expectador. Resolvi interferir, até porque estava com um tempinho livre em aumentar a produção, protegendo os animais dos predadores. Ou seja, isolei as plantas, afastei os marimbondos, as formigas, as crianças, as vespas, ou seja, tudo aquilo que poderia por em risco a integridade física da lagarta era afastado. Eram várias lagartas, comiam muito, e cresciam em uma grande população. O colapso aconteceu quando, na metade do tempo normal de formação do animal, acabou a planta. Comeram até os talos, e não foi suficiente para concluir o processo. Houve a morte de toda a população de lagartas. Morreram de inanição. Secas. Definhando.
Esta experiência coincidiu com a leitura que fiz de um livro: Colapso, de Jared Diamond, onde o autor descreve de forma fria e sustentada por fatos históricos o fim de várias civilizações da humanidade, como os Maias, os Vikings, a população da Ilha da Páscoa, e outras tantas civilizações que se exterminaram, ou que simplesmente desapareceram sem deixar rastros. Além de fatores da natureza, a falta de alimentos foi o grande fato gerador do desaparecimento destes povos, ou seja, consumiram todos os recursos que possuíam e por ficarem isolados de outras sociedades, não conseguiram sobreviver.  
O panorama em que vivemos hoje não é muito diferente do vivido pelos insetos. O aumento geométrico da população e perpetuação da espécie, onde o avanço da medicina e suas descobertas permitem que o ser humano viva por muito mais tempo com uma melhor qualidade de vida. A cada ano a população mundial aumenta em meio bilhão de habitantes. Os recursos naturais cada vez mais escassos, as florestas devastadas dando lugar à criação de gado, o aquecimento global gerado principalmente pelos poluentes industriais que saciam o consumismo desenfreado da população que busca conforto e diversão. A destruição do meio ambiente é constante e avassaladora. Todos sabem, alguns se importam e poucos tentam fazer algo para mudar. Logo, as lagartas não terão mais planta e o ciclo estará comprometido.

Ah se quiser, tem um vídeo bem legal:    Nascimento da Monarca

Nenhum comentário:

Postar um comentário